
Mas no caso do futebol, é claro o desejo de muitos que o seu prazer seja repartido, como numa gigantesca orgia. Quem gosta de futebol detesta saber da existência de quem não curte. O sonho de qualquer torcedor é ver o seu maior prazer convertido em unanimidade para justificar a tola tese de "origem biológica" do hobby. Ou seja, "quem não curte futebol, bom sujeito não é". Como leprosos, não-torcedores merecem o isolamento total.
Só que não dá para agradar a todos e é inevitável a existência, mesmo minoritária, de pessoas que se recusam a participar desta imensa e barulhenta orgia futebolística. O que tira qualquer tipo de objetividade no discurso de defesa do futebol. Ou seja, o futebol não é bom porque é bom, mas porque quem gosta acha que é bom. E são muitos os pensam desta forma.
Esquerdistas querem impor o futebol goela abaixo
Claro que a direita, habitualmente autoritária, pensa assim. Mas o que surpreende é que as esquerdas estão demonstrando um certo autoritarismo quando o assunto e futebol. Não se sabe se elas ganham com isso, mas o que se nota é um desesperado proselitismo pró-futebol, reacendo a chama do "futebol-civismo". "Temos que ganhar, porque sem futebol, morreremos", devem pensar os que adoram futebol.
Tudo bem que seja um ponto de vista bastante pessoal e portando subjetivo. Gosto é gosto e merece respeito. Mas impor o gosto pessoal aos outros não me parece uma boa ideia. Ainda mais quando esta imposição vem travestida de objetividade para tentar se legitimar. Como se o gosto pelo futebol fosse uma necessidade orgânica do brasileiro. Uma necessidade que nunca satisfez nossas necessidades reais.
Brasil não precisa do futebol para ter dignidade
Que os esquerdistas ficassem com o seu hobby para si, tudo bem. É um direito deles. Mas fazer inúmeros programas dizendo que "brasileiros tem que gostar do futebol" e agir de uma forma a ponto de se desesperar ao ver que uma jornalista esportiva não demonstrou sua alegria ao ver a seleção brasileira ganhar uma partida, aí virou algo bem patético.
O Brasil não depende do futebol para ter dignidade. Quem acha que depende tem auto-estima baixa e se conforma com o fracasso que o Brasil tem em assuntos de mais urgência, que realmente interferem na qualidade de vida do povo. Bom lembrar que qualidade de vida vai muito além do que sentar diante de uma gigantesca TV com tela verde cheia de bonecos vestidos de amarelo correndo pra lá e pra cá.
O que o futebol representa para o povo é algo bem subjetivo. Nada tem de objetivo em algo que traz prazer. O prazer é assunto individual e cada um acha o que quiser sobre a sua fonte de prazer. Que as esquerdas fiquem com seu futebol. Mas parem com este proselitismo. Não sou obrigado a aderir a algo que me dá prazer, mesmo que ele dê prazer para muitos.
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