Pular para o conteúdo principal

Agora é de verdade. Revista francesa detona a Copa no Brasil1046


Do UOL, em São Paulo

Atrasos e incidentes ocorridos nas obras da Copa são criticados pela revista "So Foot"

Desta vez é verdade. Um mês depois da polêmica gerada por um texto falso atribuído à revista France Football que criticava fortemente a organização da Copa do Mundo no Brasil, o site da revista esportiva francesa "So Foot" publicou uma extensa reportagem sobre a preparação do Brasil para o Mundial. O texto, carregado de sarcasmo e humor ácido, mostra a que veio já no título: "Viva a Bagunça Brasileira!" (Vive Le Bordel Brésilien!). Em francês, a palavra bordel serve tanto para designar casas de prostituição quanto uma grande bagunça.

A reportagem divide as cidades-sede em três grupos: as que realmente deveriam estar sediando a Copa e que valem a viagem, mas que nem por isso estão livres de problemas (Les villes où ça devrait le faire), as sedes em que inevitavelmente a Copa será uma bagunça ("Les villes dans lesquelles ce sera forcément le bordel"), e aquelas onde o melhor mesmo é deixar para ver os jogos pela televisão ("Les villes dans lesquelles on verra peut-être un match, mais à la télé de préférence").

No primeiro grupo, estão Fortaleza, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre. Nessas cidades, a revista identifica problemas menores, como problemas de conexão com a internet e falhas nos telões no estádio do Beira-Rio, na capital gaúcha. Já sobre Brasília, a reportagem destaca o alto custo de construção do Estádio Nacional Mané Garrincha, em uma cidade que não possui clubes de expressão no cenário nacional.

Já no segundo grupo, o da bagunça inevitável, estão São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Natal. O Aeroporto do Galeão (RJ) é descrito como "indigno de uma capital turística": "Edifícios degradados, pistas saturadas nas altas estações e paralisação das atividades em cada chuva forte prometem grandes doses de diversão", ironiza a publicação.

Sobre São Paulo, a reportagem afirma ser a cidade "irmã da Cidade do México e prima do Cairo (capital do Egito)", centros urbanos conhecidos mundialmente pelo trânsito caótico. Já Salvador teria um trânsito difícil na hora do rush. "Considerando que o estádio [Arena Fonte Nova] fica em uma região central da cidade, vai haver sofrimento".

Finalmente, no grupo das cidades em que seria melhor ver os jogos pela TV, estão Cuiabá, Manaus e Curitiba. O aeroporto da capital mato-grossense é descrito como "um campo de barro". "[O aeroporto] é do tamanho de uma cozinha, mas há que um lindo papagaio pintado na parede. Nenhuma grande nação vai jogar em Cuiabá. E depois dizem que o sorteio é aleatório". Já Curitiba é tratada como a "grande emoção pré-Mundial", com a dúvida até o último minuto sobre se o estádio estará ou não pronto a tempo.

A reportagem critica não só a situação dos estádios, aeroportos e infraestrutura em todas as 12 cidades-sede brasileiras. Sobrou também para a Fifa, para o seu presidente, Joseph Blatter (descrito como alguém que, no Brasil, nunca havia colocado os pés fora do Copacabana Palace), e para o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke. A revista afirma que o turista que vier à Copa vai encontrar: filas em todos os lugares, voos atrasados chegando às cidades dos jogos após o término das partidas e torcedores enfurecidos por perderem o espetáculo.

O texto continua: "Nenhuma cidade-sede tem capacidade de entregar a tempo o trio de obras 'estádio + aeroportos + obras de mobilidade urbana'. No caso dos aeroportos, os processos de licitação das obras só foram lançados após as eleições de 2010. Quanto à mobilidade urbana... não se moderniza um país em seis meses, especialmente um país como o Brasil. E por mobilidade urbana entende-se os meios mais básicos de transporte: vias de acesso a locais turísticos, estradas, corredores de ônibus, metrô e trens urbanos etc. Logo, serão os seus pés os que farão a maior parte do trabalho."

De acordo com a reportagem, parte da culpa para que se tenha chegado à marca dos 100 dias para o início da Copa na situação em que se chegou é também da entidade que comanda o futebol mundial. "A Fifa, do seu lado, é prisioneira de um Brasil com quem ela briga/late/chicoteia a cada semana, como se tivesse tratando com uma criança, com um sentimento vago de que é tarde demais".

Sobrou até para o "jeitinho brasileiro": "Joseph Blatter, então, agora se mostra chocado: 'Nenhum país teve tanto tempo para se preparar quanto o Brasil', e ele está certo. Errado ele estava em 2007 [quando o Brasil foi escolhido como sede da Copa], ao impor ao país um "padrão Fifa" que estava distante demais de sua realidade, e que culturalmente não sabe dizer não. Mas sabe dizer, porém, quando já tarde demais, "desculpe, mas teremos que fazer alguns arranjos".

A reportagem foi publicada no dia 3 de março. No dia seguinte, a revista publicou novo texto sobre o Brasil e a Copa, desta vez destacando as manifestações que varreram o país em junho do ano passado, durante a Copa das Confederações, apontando que o povo brasileiro está insatisfeito com o alto custo da preparação do país para a Copa, majoritariamente custeados pelos cofres públicos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Protestos de torcedores fortalecem fanatismo futebolístico

Os protestos organizados por torcedores tem tomado as ruas no último final de semana. É uma medida plausível, admirável, pois alguém tinha que se mexer para mostrar ao tal de Jair Bolsonaro que o povo não quer mais ele presidindo o Brasil. Mas as esquerdas, que sempre adotaram uma postura ingênua em relação ao futebol, tratando-o naquela ladainha de "orgulho nacional", trataram logo de superestimar o fato de serem as torcidas de futebol que estavam organizando os atos, como se isso fosse de extrema relevância para o ato. Esses esquerdistas acabaram se esquecendo que tais torcedores estavam no papel de cidadãos e as torcidas organizadas era apenas um fato a facilitar a reunião desse cidadãos. Poderiam ser membros de um fã clube de uma banda qualquer, praticantes de ioga ou jogadores de video game, que daria no mesmo. Mas para quê superestimar a relação com o futebol e ainda insistir com isso? Na verdade, o episódio está sendo usado pelos esquerdistas para esfreg

Adesão ao futebol comprova conservadorismo das esquerdas

Brasileiro é um povo conservador, em seu todo. Eu sempre percebi isto. Mesmo as esquerdas tem o seu conservadorismo, só que mais moderado que a direita. As esquerdas abrem espaço para ideias mais progressistas, mas há assuntos tratados como "cláusula pétreas" que não podem ser alterados, mesmo que fosse necessária a sua alteração. O futebol é o maior destes assuntos. A natureza não dá altos e o povo brasileiro, tradicionalmente inseguro, prefere se agarrar aquilo que dá certo, mesmo que seja a bobagem mais fútil do mundo. As esquerdas, preocupadas em agradar ao povo, resolveram ser conservadoras em alguns assuntos, pois entenderam que certas zonas de conforto devem ser preservadas. Esta copa já está sendo marcada pelo silêncio daqueles que não curtem futebol. Com o fim da maior comunidade de aversão ao futebol no Facebook e com a adesão maciça da mídia alternativa ao futebol, repetindo feito papagaio o que é falado na mídia corporativa odiada pelos esquerdistas, os não-torced

Quando falam em futebol, esquerdistas impõem visão subjetiva do esporte

Gosto é algo muito pessoal. Diferente do valor cultural, gostar de algo reflete apenas o fato de alguém sentir prazer com determinada coisa. E prazer varia de pessoa para pessoa, o que impede qualquer absolutismo. Não dá para impor uma fonte de prazer a outras pessoas. Cada um que fique com a sua fonte de prazer. Mas no caso do futebol, é claro o desejo de muitos que o seu prazer seja repartido, como numa gigantesca orgia. Quem gosta de futebol detesta saber da existência de quem não curte. O sonho de qualquer torcedor é ver o seu maior prazer convertido em unanimidade para justificar a tola tese de "origem biológica" do hobby. Ou seja,  "quem não curte futebol, bom sujeito não é".  Como leprosos, não-torcedores merecem o isolamento total. Só que não dá para agradar a todos e é inevitável a existência, mesmo minoritária, de pessoas que se recusam a participar desta imensa e barulhenta orgia futebolística. O que tira qualquer tipo de objetividade no discurso de defes