Carlinhos Vergueiro é um dos grandes sambistas brasileiros, de qualidade comprovada. É um dos remanescentes de uma época boa da música, onde samba não era sinônimo dessas bobagens que ouvimos hoje nas rádios e nas TVs. Mas um texto escrito por ele para a edição de ontem da Revista do Globo foi de uma total desinformação e de um nítido deslumbramento. Não encontrei link do texto para postar aqui. Procurem a Revista do Globo de 25/11/2012 e acharão.
Vergueiro escreveu um texto empolgado defendendo a ideia de que o esporte, e mais ainda o futebol, traz qualidade de vida. Ainda repetiu o desastroso mantra de que "esporte substitui educação" - o que para mim é uma ideia aberrante, monstruosa no pior sentido. Detesto quando dizem que esporte substitui educação, pois além de serem coisas bem diferentes e de não encontrar no esporte a maior parte dos atributos necessários à formação pessoal (presentes na educação), no esporte podemos encontrar dois aspectos que deformam o caráter humano.
Esporte é um grande estímulo a preconceitos. Quase ninguém fala sobre isso. Mas quem tem o discernimento, percebe que isso é fato. Os dois aspectos que são motivo de muito bullying e muita exclusão social (sim, o esporte exclui - vejam o cotidiano "silencioso" das escolas durante as aulas de Educação Física) são: o estímulo à competitividade e o culto à perfeição física.
Competir, meus caros tupiniquins, estimula o egoísmo. Competir é nada mais, nada menos do que impedir o outro de alcançar o objetivo. Impedir o outro de ser feliz. É se achar melhor que o oponente. É acabar o oponente se for necessário. O que isso ajuda na formação pessoal do indivíduo? O contrário do que dizem!
O culto ao corpo é outro problema. Apesar das pessoas culparem a alimentação para justificar o alto índice de jovens altos e esticados - sobretudo no sexo masculino - nas gerações recentes, o estímulo ao esporte nestas mesmas gerações é evidente e até gritante. Não creio que somente a alimentação possa esticar um tronco e aumentar a altura de um rapaz. Eu sou baixinho, "atarracado" e sempre me alimentei bem.
Outra coisa dita por Vergueiro é que o esporte traz qualidade de vida. Depende do que ele entende como "qualidade de vida". Se for saúde física, ele está certo. Agora se acha que a sociedade vai se desenvolver como um todo por causa do esporte, principalmente o futebol, são outros quinhentos.
Quero ver se a vitória de um time irá resolver o esgoto que passa na janela de meu apartamento. Quero ver se o chute do Neymar vai pagar as minhas contas. Quero ver se o Hexa conquistado pela "seleção" vai exterminar o desemprego e aumentar o salário dos mais carentes.
Nada disso, senhor Vergueiro. Qualidade de vida se conquista com leis, com trabalho, com respeito ao próximo e com senso de responsabilidade. Qualidade de vida não se consegue com alegria. Alegria é consequência dessa qualidade de vida e não causa. Alegria é fim e não meio.
Quero ver uma pessoa sem comer durante dias se sentir alegre. Quero ver um cara "fracote" se sentir alegre porque foi rejeitado pelos seus colegas de turma na escola.
O esporte merece uma análise psicológica para que possa ser um instrumento educacional - não a educação em si, mas um de seus ingredientes - para que as pessoas sejam estimuladas ao altruísmo, aprendendo a respeitar as diferenças e os interesses alheios.
Não gostaria de dizer que o texto de Vergueiro foi infantil, alienado e deslumbrado. Até a maneira como foi escrito deixa isso claro. Como uma criança falando daquilo que mais gosta. Uma criança falando de uma terra encantada onde uma simples entrada de uma bola em uma rede é vista como uma redenção para todos.
Apesar de bem redigido, faltou maturidade no texto de Vergueiro escrito para O Globo. O tempo mostrará que ele errou desta vez. Um verdadeiro samba do futebosteiro doido.
Comentários
Postar um comentário