Os protestos organizados por torcedores tem tomado as ruas no último final de semana. É uma medida plausível, admirável, pois alguém tinha que se mexer para mostrar ao tal de Jair Bolsonaro que o povo não quer mais ele presidindo o Brasil.
Mas as esquerdas, que sempre adotaram uma postura ingênua em relação ao futebol, tratando-o naquela ladainha de "orgulho nacional", trataram logo de superestimar o fato de serem as torcidas de futebol que estavam organizando os atos, como se isso fosse de extrema relevância para o ato.
Esses esquerdistas acabaram se esquecendo que tais torcedores estavam no papel de cidadãos e as torcidas organizadas era apenas um fato a facilitar a reunião desse cidadãos. Poderiam ser membros de um fã clube de uma banda qualquer, praticantes de ioga ou jogadores de video game, que daria no mesmo. Mas para quê superestimar a relação com o futebol e ainda insistir com isso?
Na verdade, o episódio está sendo usado pelos esquerdistas para esfregar na cara de quem disse que futebol é alienação. De fato é alienação, pois a politização dos torcedores nada tem a ver com o futebol e sim com a consciência de cidadania. Mas forjar a associação entre futebol e politização é conveniente, mais ainda para quem acredita que futebol é dever cívico, como é tradição no Brasil.
Para os defensores da "Pátria de Chuteiras", é a oportunidade de tentar retomar a estranha luta pela conversão do futebol em uma unanimidade compulsória, como um dever de todos os brasileiros, algo supostamente biológico (quem não gosta de futebol, bom sujeito não é, ruim da cabeça e doente do pé), fazendo com que gente com mentalidade totalmente diferente, se una pelo menos uma vez, por um ideal.
O apoio que deveria ser justo a quem se empenha em reivindicar a democratização do país, está sendo transformado em uma histeria futebolística que pode aumentar o fanatismo futebolístico, revertendo o desânimo iniciado com a organização da copa de 2014, em que muita gente criticouo fato de haver gastos imensos para um evento supérfluo.
De fato, a copa nada serviu para além de aumentar ainda mais o nosso fanatismo. Embora deu a oportunidade de sofrermos a nossa maior derrota, justamente "em casa" (os taia 7x1 que ainda rendem trauma nos futebolistas brasileiros até hoje). Mas as esquerdas dizem que a copa foi importante. Importante para quem, caras pálidas? Só se for para a CBF e seus "cartolas"...
Infelizmente, a reversão causada pela recuperação do mito do futebol-civismo vai aumentar o fanatismo futebolístico, retomando o futebol como prioridade máxima para o país. As esquerdas, que deveriam ser mais conscientes quanto a isso, estão animadas em brincar de patriotismo com o futebol. As manifestações, se não vieram com esta proposta, foram sequestradas para isso.
E mais uma vez vamos ver o Brasil se estacionar diante das outras nações, muito melhores em assuntos mais sérios. Somos a "Pátria de Chuteiras" e esta é a nossa sina. Por isso continuamos no sub-desenvolvimento e se depender das esquerdas, não sairemos desta condição tão cedo.
A direita moderada (anti-bolsonarista) já comemora o fato e se prepara para voltar ao poder esticando a loga pena para as ingênuas esquerdas, ocupadas com sua adoração ao futebol, caírem e serem jogadas para fora do jogo político, apenas servindo agora momentaneamente para atrair apoio popular para as forças da direita "civilizada".
Mas não importa. Se tudo ficar na pior, fujamos da realidade e escondamos em um estádio de futebol. no sonho encantado da bola rolando, somos os melhores do mundo. Somente medíocres pensam desta maneira.
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