Sabe aquela criança que sonha com um videogame da moda, mais arrojado, aquele cheio de recursos e que todo mundo usa e que no fim das contas ganha uma roupa bonita, mas sem graça? A criança fica até alegre, mas meio chocha, com sorriso amarelo. Mas no sábado a coisa mudou. Finalmente a criança ganhou seu videogame. E ficou feliz como nunca.
Troque "roupa bonita" por medalhas em outras modalidades" e "videogame" por "futebol masculino" e entenderão o que aconteceu. Finalmente o povo conseguiu o que realmente queria. O futebol de Neymar levou o seu ouro. O fanatismo de mais de 60 anos pode ser mantido. Voltamos a ser uma pátria da chuteiras!
Os brasileiros de outras modalidades nem precisavam ter ganho medalhas. Eles não interessam ao povo, a não ser para os fãs das respectivas modalidades. O tiro para os que gostam de tiro, natação para os que gostam de natação, corrida para os que gostam de corrida e por aí vai.
Mas o futebol, é de todos. Para muitos futebol é um dever nacional. Não o futebol feminino. Legal ver mulheres nas arquibancadas. Mas em campo, não é a meta da maioria. Marta e companhia não tem o poder de levantar uma nação. A responsabilidade disso é de um garoto evangélico-farrista, analfabeto, mulherengo, sonso e alegremente arrogante.
Neymar provou que é o homem maias amado do Brasil, orgulho máximo da nação que não faz questão qualidade de vida e sim de bola na rede. A mesma nação que se prepara para entrar em uma ditadura branda que promete piorar a qualidade de vida dos brasileiros. Mas não importa. Voltamos a ser os "melhores" no futebol, a nossa razão de ser. O resto é detalhe.
Com o ouro inédito, Joao Havelange, o corrupto dirigente que inventou o mito da pátria de chuteiras batizado por Nelson Rodrigues, recebeu a mais honrada homenagem. Havelange deveria ter esperado poucos dias para receber a homenagem ainda vivo. Neymar é a realização dos sonhos do estrangeiro que dirigiu a CBF e a FIFA.
Graças a isso, o povo retoma o seu fanatismo. O mito foi preservado, mesmo que seja falso. Pelo menos a vitória desta vez foi honesta (a CBF nunca priorizou vitórias em Olimpíadas, por isso não tem o hábito de fraudar, como faz em copas). Honesta, mas não-merecida. Em tempos de caos político, desviar o foco da política é o que deveria ter sido evitado a todo o custo.
Para os brasileiros, as Olimpíadas começaram e terminaram ontem. Mesmo que tenha sido bom conquistar medalhas em outras modalidades, o futebol sempre foi a nossa meta. Um título inédito conquistado por aquele que é o nosso maior vício. Algo que nos faz esquecer de coisas muito mais importantes na vida. A nossa maior zona de conforto.
E essa nossa maior zona de conforto foi finalmente consagrada. Queremos estar nela e dela nunca sairemos. Como na conquista de 70, ganhamos no futebol e perderemos na vida. Mas estamos felizes. Como o ouro no futebol, podem arrancar as carnes de nossos corpos. O futebol sempre foi nossa prioridade.
Agora poderemos morrer felizes. Mesmo que sejamos torturados em uma câmara escura, por um carrasco fascista.
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