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Fazer caridade com esporte: um grave erro

Os conservadores e setores progressistas mais ingênuos enfiaram nas suas cabeças a ideia de que o esporte só possui coisas boas. Vários chegam a afirmar que esporte substitui a educação, o que é uma insanidade. Vários projetos de caridade paliativa utilizam o esporte como método. Todos, sem exceção, se esquecem dos graves erros de superestimar o esporte na formação de mentes jovens.

Argumentam os defensores desta tese que o esporte mantém as crianças e adolescentes ocupados desviando de atividades supostamente nocivas. Mas isso não é educação, isso é apenas manter os jovens fazendo alguma coisa. Não há o estímulo a racionalidade, ao respeito ao próximo (o esporte evoca a competitividade, que estimula o egoísmo e em alguns casos, o sadismo) além de negligenciar a visão crítica do mundo. 

Fora um e outro atleta (como Rafaela Silva e Joana Maranhão), a maioria dos atletas costumam ser desprovidos de consciência crítica, ou porque não tem ou porque são impedidos de ter. Lembrando que nos bastidores das atividades esportivas há muitos patrocinadores gananciosos e treinadores tiranos e não raramente nos contratos de patrocínio há cláusulas que impedem os atletas de ter uma postura crítica. Há casos de tortura, possíveis, mas não confirmados. O choro dos atletas após conquistas pode servir como uma boa pista do lado triste por trás do "positivo" esporte.

Ouvindo uma palestra de um executivo ligado ao sistema de ensino, que prefiro não identificar mas que segue uma linha muito conservadora, notei que ele falava entusiasmadamente de um projeto conduzido pela instituição controlada por ele que fazia caridade utilizando o esporte. 

É triste ver um sujeito que pretende trabalhar com educação pensar que o esporte substitui ou complementa a educação, quando na verdade não passa de atividade lúdica a desenvolver o físico (e não o intelecto - Neymar, um burraldo estereotipado, mas considerado o nosso "melhor" atleta, não me deixa mentir). Aliás o próprio Neymar, evangélico que segue uma linha conservadora, conduz uma filantropia com base em esporte.

Não foi para educar que o esporte foi criado. Nem para caridade serve pois as atividades esportivas não são garantias de sucesso na vida. Sabe-se que atletas possuem muita dificuldade para conseguir patrocínio. O esporte não é tradição em nosso país, e atletas só são preparados praticamente às vésperas de competições quando deveriam transformar o esporte em algo cotidiano. Mas como não obtém patrocínio, tem que arrumar outros empregos para garantir pelo menos a sobrevivência (Rafaela Silva é sargento da Marinha e como parente de militar da Marinha, sei que o trabalho é duro e o tempo livre escasso).

E o esporte tem características próprias que faz com que a sua vocação educacional seja ultra-precária. É um erro monstruoso com consequências catastróficas querem substituir a educação pelo esporte. Quem pensa nisso é insano e irresponsável. O esporte deve ser tratado apenas como atividade lúdica, sadia e feita apenas para preencher tempo e adquirir saúde física. 

A educação deve estimular o intelecto, a visão crítica da realidade, o interesse em analisar tudo, desobedecer com respeito quando lideranças mentem ou abusam e ter a criatividade para propor soluções novas que realmente eliminam problemas e não se conformar com os que tem como fazem os projetos de caridade existentes no país, altamente conformistas. 

Caridade deve eliminar problemas e não fazer-nos suportar. Até porque problemas existem para ser eliminados. Quem lucra com problemas ou no mínimo não se esforça para eliminá-los nunca deve ser considerada uma pessoa de bem.

Então está combinado:
- Esporte não é educação nem caridade: serve apenas para diversão e para desenvolvimento da saúde física;
- Caridade deve eliminar problemas;
- Educação deve estimular o intelecto, a análise e a consciência crítica, contestando o que está errado;
- Tudo deve ser feito para que a competitividade do esporte não se transfira para a a vida cotidiana, com o alto risco de gerar pessoas egoístas e com vontade de prejudicar os outros.

Quem ainda achar que o esporte substitui a educação não sabe o grave erro que está cometendo. As consequências disso são imensuráveis (para pior). Pensem nisso.

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