O senso de unanimidade conforta. Saber que erros que nós cometemos também são cometidos por outras pessoas é algo que nos tranquiliza, pois nos livra de esforços e de gafes, pois uma pessoa nunca vai criticar outra que comete o mesmo erro. Até porque para ambas, o seu erro é um acerto.
Os brasileiros sempre acreditaram na unanimidade do futebol. Apesar de termos uma diversidade em todos os assuntos e setores da sociedade, preferimos o monopólio do lazer esportivo. E com o ufanismo da copa de 70 até hoje presente na publicidade midiática, ainda continuamos defensores desse monopólio de da falsa unanimidade.
Mas o curioso é que os torcedores agem muito mal quando tomam conhecimento de alguém que assume não curtir futebol ou quando são criticados pelos seus excessos futebolísticos. Quem não curte futebol é que era para estar agindo com revolta.
Afinal, para autoridades, mídia e boa parte da sociedade, que não curte futebol fica abandonado e sem o respeito de seus mínimos direitos, tendo que a cada 4 anos, durante um mês, ter que aguentar o desprezo de toda a sociedade. Além de aguentar toda a algazarra ensurdecedora cometida pelos torcedores, que não conseguem usufruir de seu maior prazer com silêncio e tranquilidade (ah maldita adrenalina, essa droga estressante...).
Os torcedores não assumem, mas deve ter um certo medo inconsciente de ser criticado por uma postura tão infantil. Torcedores não curtem futebol de modo normal. Tratam como obrigação, defendem com histeria, berram, pulam, enchem a cara, desistem de trabalho, de qualidade de vida e ainda demonstram um amor pátrio que não costumam demonstrar em situações mais adequadas.
Para este costume um tanto estranho de tratar o futebol como dever e prioridade, os torcedores acabam merecendo um monte de rótulos desagradáveis, além de servirem de chacota para sociedade mais amadurecidas. Brasileiros são tradicionalmente ingênuos, mas é em épocas de copa que essa ingenuidade alcança níveis imensuráveis: uma verdadeira aula de estupidez humana.
E talvez essa enrustida consciência de um prazer que não pode ser negado (mexe com instintos, traz prestígio social e serve de zona de conforto, oferecendo falsa segurança) ser considerado pela lógica como um supérfluo, traz esse medo de críticas, apesar de toda a proteção que torcedores recebem de mídias, autoridades e setores mais influentes da sociedade.
Talvez, para esses torcedores, receosos de prováveis críticas, essa proteção pareça insuficiente para que se mantenham tranquilos. Devem estar com muita saudade da falsa unanimidade que era garantida quando não havia a internet, quando a opinião pública, o consciente coletivo e o senso comum estavam sobre absoluto controle dos donos de televisões, revistas, rádios e jornais.
Comentários
Postar um comentário