Um membro de nossa equipe estava assistindo um documentário onde o apresentador visitava um povoado no deserto do Saara e foi convidado pelo anfitrião a comer um testículo de camelo recém-morto. O apresentador, um biólogo ex-militar, ficou meio enojado, mas tentando ser gentil, topou a estranha degustação. Comeu, mas vomitou depois, longe dos olhos do anfitrião. mesmo assim pediu desculpas, argumentando que não estava acostumado aquele tipo de alimento.
Hoje de manhã, nosso amigo contou o que viu e comparou ao fato dos cariocas obrigarem quase todo mundo a gostar de futebol. No mínimo você tem que ter um time na carteira de identidade. De preferência um dos quatro "fantásticos" (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo). Torcer por outro time (por exemplo o América e o Bangú) não bale, embora seja usado frequentemente por quem não curte futebol, pois o risco de ser desmascarado como falso torcedor é menor.
Nossa equipe gosta de assumir que não curte futebol. Mas quando isso não é possível, alguns de nós fingem que é torcedor do América e outros do Bangú. Quem vos escreve é "americano desde criancinha" embora nem mesmo sei qual a situação do time em campeonatos neste ano.
Para o carioca, é uma ofensa assumir o desprezo pelo futebol. É como ir a um restaurante italiano e assumir que não gosta de macarrão. Um de nossos membros detesta macarrão. Os cariocas gostam de dividir a sociedade entre os quatro principais times e é um sinal de simpatia e de bom convívio social estar em um destes times. Bom lembrar que machos cariocas são monotemáticos em seus assuntos: só falam em futebol. Fugir do assunto é recusar amizade: vira persona non grata na hora.
Claro que cariocas fingem que não obrigam ninguém a gostar de futebol. Mas se incomodam quando percebem que alguém não gosta do esporta mais popular do país. Cariocas evitam posar de autoritários fingindo que não obrigam o hobby. Mas sempre argumentam "você não é obrigado a gostar de futebol, mas seria bom que gostasse". "Seria bom" significa "você é obrigado sim".
Para se ter uma ideia, tente achar algum famoso carioca que não curta futebol. Mesmo que de fato haja, ele fingirá que gosta e até escolherá "seu time do coração" para não ofender a sociedade carioca. Até se trancafiar em casa e desligar a Tv na hora do "jogaço importante" daquele "tal time do coração". Aí poderá secretamente fugir da que hobby exigido por quase toda a sociedade de um estado, encafifada em impor aos outros como deve se divertir.
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