Miguel do Rosário é um dos melhores jornalistas da atualidade. Suas análises são precisas, detalhadas e sempre comprovadas através de dados. Nossa equipe é fã do cara e sempre assiste seus hangouts (chats através de vídeo) e lê os excelentes artigos de seu site Cafezinho.
Mas em um de seus hangouts, uma coisa chamou a atenção que nos deixou um pouco encafifados, quase impedindo de prestar a atenção no hangout em si. Como se este hangout estivesse sendo apresentado por alguém com uma verruga gigante na cara.
Miguel do Rosário estava usando uma camiseta da CBF. Nada contra o fato dele gostar de futebol (ainda mais que ele é carioca e cariocas são obrigados pelas regras sociais a gostar de futebol). Mas as circunstâncias político-sociais do Brasil e o fato de que Rosário é um crítico da grande mídia e da corrupção praticada por cartolas, a camiseta ganha um significado muito alem do que simples apologia a uma modalidade esportiva.
Rosário tem todo o direito de gostar de futebol. Mas ele tem que se lembrar de que é um esporte conservador, principal produto da grande mídia criticada pelo mesmo e que faz parte dos costumes mais antiquados do Brasil. Não por acaso, vários ex-jogadores e jogadores de futebol como Zico, Romário, Ronaldo Fenômeno, Neymar e outros, resolveram seguir orientação política de direita. O próprio futebol, aliás, é utilizado como "comprovação" de validação da meritocracia.
É bom lembrarmos de que nos protestos de 2016, os direitistas elegeram a camiseta da CBF como seu uniforma nas manifestações, mostrando a tradicional confusão entre "seleção" e o país, confusão tranquilamente compartilhada como os esquerdistas, já que grande parte dos brasileiros trata o futebol como dever cívico. Uma forma de civismo não vista em outras situações, mais urgentes.
Outra coisa a lembrar é que o futebol em si nada tem de magia. A magia é uma prótese colocada pela mídia que colocou pompa em um esporte sem graça, de regras fáceis e praticada por rapazes, considerados feios e ignorantes, que se não fossem jogadores de futebol, seriam facilmente desprezados por toda a sociedade.
A magia do futebol é algo que não pertence ao futebol em si e foi colocado através de muito dinheiro vindo de contas de cartolas através de patrocinadores. Se tirarmos cartolas e mídia do futebol, como imagina a conservadora esquerda brasileira, o futebol retorna à várzea, perda a magia e os jogadores voltam a ser aqueles indigentes que todos costumam ignorar quando andam nas ruas. Mídia e cartolas são as fadas madrinhas do futebol-cinderela e sem eles, a carruagem vira abóbora.
Pode ser que Miguel do Rosário tenha usado a camiseta por ingenuidade. Mas se esquece ele que sem querer ele fez proselitismo de algo que o conservadorismo carioca mais preza, prioridade máxima da sociedade habitante do estado do Rio de Janeiro.
Ano que vem teremos copa e se a "seleção" brasileira ganhar e depois vir uma ditadura sanguinária aos moldes nazistas - há planos secretos para isto, segundo dados oferecidos por Rui Costa do PCO, outro defensor do futebol-civismo, apesar de paulista - os cariocas ficarão tranquilos.
Os choques elétricos em uma sala escura doem menos quando se tem a certeza de mais um troféu na estante de cartolas corruptos e gananciosos da tão estimada CBF, tao adorada por brasileiros de todas as orientações políticas.
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