Recebemos em nosso e-mail uma mensagem de um leitor que pediu para não identificado e que contássemos o seu caso real com nossas palavras, sem reproduzir o seu texto. Obrigado leitor e vamos contar de nossa forma o seu caso, colocando o fictício nome de "João".
"João" é um excelente profissional, cumpridor de seus deveres, que nunca faltou o trabalho por motivo fútil, é pontual e costuma concluir suas tarefas um pouco antes da hora estipulada, tendo fama de adiantar bastante o trabalho da empresa.
Era um dia normal de trabalho. João estava mais uma vez em sua tarefa quando um dos colegas, o mais extrovertido tenta puxar uma conversa, de início simpática, com o colega.
Colega 1: Oi, João, tudo bem?
João: Tudo.
Colega: Você é um cara legal, trabalhador, gente boa mesmo. mas não sabemos muito de você. Qual é o seu time de futeboll?
João: Eu não curto muito futebol.
Colega 1: O quê? Não curte futebol? Você está brincando!
João: Sério. Eu não sou muito ligado em futebol. Respeito, mas não me interessa.
Colega 1: Mas peraí! Aqui no Rio todo mundo curte futebol.
Colega 2: O quê? João não curte futebol? Tá vacilando! É a melhor coisa que temos aqui! Não há quem não goste!
Colega 3: Acho que é uma pegadinha...
João: Não é não, eu simplesmente não curto. Já disse que eu respeito, mas não me divirto com isso.
Colega 1: Rapaz, você precisa entender certas coisas... Aqui todo mundo tem que gostar. É o que nos une no Rio de Janeiro!
Colega 3: Nem precisa ser o mesmo time que o nosso. Basta torcer por algum.
João: Não me sinto obrigado a gostar de futebol. Não há lei que me obrigue.
Colega 2: Puxa, mas nem um timinho? E a seleção, gosta, Na copa, você gosta!
João: O futebol é o mesmo seja nos campeonatos loais, seja na copa. É hipocrisia desprezar o futebol para gostar em época de copa. Não. Eu não curto futebol! Em qualquer ocasião!
Colega 1: Eu pensava que você era gente boa! Que a gente era amigo...
Colega 3: Você não é patriota? Brasil sem futebol não é Brasil!
Colega 2: Você vai ficar sozinho! Está se isolando, cara!
João: Se amizade depende da adesão a uma forma de lazer ao invés da valorização de caráter, então nada feito. Me deixem em paz que eu tenho que entregar esta tarefa no fim do dia.
Dias depois, o Colega 1 vai ao escritório do chefe.
Chefe: Hoje estou feliz. O trabalho está indo de vento em popa. Estamos cumprindo nossas tarefas e lucrando bastante. Graças a boa equipe que eu tenho.
Colega 1: É chefe, mas temos uma ovelha negra.
Chefe: Como assim? Um infiltrado?
Colega 1: Nada disso, chefe! É o João!
Chefe: O que tem o João? Vocês são bons, mas saibam que ele é o nosso melhor funcionário.
Colega 1: É mas ele não tem espírito de equipe.
Chefe: O que você quer dizer com isso?
Colega 1: Ele não gosta de futebol.
Chefe: É, isso é um problema. Mas se não atrapalha o serviço, eu não me importo.
Colega 1: Mas chefe, hoje o espírito de equipe é muito valorizado nas empresas. E se estende a atividades extra-trabalho. Colega que é colega se une em todas as horas, inclusive nessa.
Chefe. Olha, eu sei que isso é importante. Mas João faz excelente trabalho e não tenho meios legais para puni-lo por causa de gosto pelo esporte. Vá trabalhar e deixe-o em paz.
O Colega 1 sai contrariado da conversa, chateado por não poder punir o colega que achou chato por não ter o mesmo pensamento. Decide tomar uma atitude.
Dias depois, notou que precisava refazer todas as suas tarefas, chegou a ser preso pelos colegas em um banheiro, na hora do almoço, para não voltar ao trabalho em tempo certo, foi alvo de boatos sobre sua forjada queda de desempenho e acabou demitido da empresa. "João" teve o seu trabalho sabotado. Tudo porque sua preferência de lazer não foi bem compreendida pelos colegas que passaram toda a vida acreditando na falsa unanimidade do carioca no gosto pelo futebol.
Felizmente o mesmo e-mail enviado por "João" nos informou que ele arrumou outro emprego, com quase o mesmo salário (um pouco maior até) em uma empresa de menor porte. Como ele sempre foi um excelente profissional e a repercussão do ocorrido não foi convincente (a nova empresa percebeu que a anterior abusou), ele pode voltar ao trabalho. Mas ainda assim, "João" ficou indignado com o ocorrido e pede para que divulguemos este triste acontecimento que comprova que todo fanatismo, a crença em estereótipos e o desrespeito ao direito de não curtir algo popular pode ser altamente nocivos.
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