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Racismo no futebol não combate o racismo cotidiano: serve apenas como propaganda pró-futebol

Antes que acusem esta postagem de qualquer coisa, quero esclarecer que racismo, assim como toda forma de agressão psicológica, nunca é bom. Vivemos, pelo menos eu creio que vivemos, em uma sociedade que pretende ser avançada e há muitos séculos deveríamos ter aprendido com as cruéis batalhas, a respeitar melhor os seres humanos. Deveríamos pensar mais coletivamente e entender que todos os seres humanos, seja quem fosse, merece ter bem estar e dignidade.

Mas, há casos onde a condição de vítima se torna meio de promoção pessoal e de estímulo proselitista em favor ao culto de certas atividades ultra-valorizadas. Como o superestimado futebol, que no Brasil é tratado com excessiva importância e seriedade. Como se a qualidade de vida da população dependesse da entrada de uma bolinha em uma rede.

Essa importância dada ao futebol pode ter aumentado a importância das lutas contra o racismo no futebol. OK, racismo nunca presta, mas sobre o racismo no futebol, precisamos nos lembrar de duas coisinhas:

- Os casos de racismo no futebol nunca geram danos aos jogadores ofendidos, que continuam ricos, populares. Pelo contrário: a condição de vítimas aumenta a popularidade e consagra o futebol como algo que parece humanitário (???!!!).

- Somente os jogadores de futebol merecem ser protegidos contra o racismo. Vejo episódios muito mais cruéis do que um simples xingamento de "macaco", que a sociedade deixa passar tranquilamente, onde as vítimas sofrem danos irreversíveis (muitas vezes para a vida toda), agravados pela falta de prestígio e de fama que os jogadores de futebol possuem.

Está ficando chato os casos de racismo no futebol. E pasmem: não é porque estou do lado das "vítimas" Pelo contrário. Os jogadores ofendidos é que são os responsáveis pela chatice. Ô caras chatos! Se incomodam com uma xingaçãozinha, ao invés de ignorar e levar as suas - privilegiadas - vidas! Racistas são sempre ignorantes, mas os jogadores-vítimas acabam transformando esses racistas em garotos-propaganda dos próprios jogadores.

Como eu falei, há casos de racismo muito mais cruéis e danosos que quase todos deixam passar, como se fosse normal um não-branco morrer surrado por policiais racistas (estranhamente alguns tão negros quanto as vítimas surradas - mas agem a serviço das leis criadas pelos brancos). Como se fosse pior ser chamado de "macaco" durante um jogo, mas sem qualquer tipo de dano físico ou prejuízo financeiro e social.

Que tipo de prerrogativa os jogadores de futebol possuem para que sejam protegidos de atos racistas, se o racismo sofrido por eles é muito mais brando que o racismo rotineiramente enfrentado por muitos negros, mestiços (quem lhes escreve é um mestiço - e já sofri coisas muito piores que os jogadores sofrem) e integrantes de outras etnias?

Mal sabem os jogadores (ou a vida cheia de mordomias, fama e de belas loiras a lhes abrir as pernas, lhes apaga da memória) que muitos cidadãos são vítimas diariamente de muita crueldade cotidiana, danosa e ofensiva e que não possuem um poder de persuasão para poder reivindicar o respeito que é o mínimo que deveriam ter. Vários deles tem que passar a vida toda com limitações por não ter nascido nas condições físicas que a sociedade define como "belo".

Caro que os jogadores poderiam usar o seu prestígio para combater o racismo em todas as esferas socais. Mas não é isso que se vê. O racismo no futebol só está servindo para combater o racismo NO FUTEBOL. Fora dos gramados a triste história de excluídos étnicos continua sendo contada com requintes que misturam ingredientes de filmes de ação e de terror. Muito longe dos holofotes midiáticos que sugerem que o racismo no futebol seja supostamente mais cruel do que os  cometidos no cotidiano das cidades ao redor do mundo.

E é bom frisar que o racismo sofrido pelos jogadores não gera qualquer tipo de dano. pelo contrário: acostumados a serem tratados como "heróis" (só porque sabem chutar uma bolinha? Ora, vamos e venhamos!), se aproveitam dos episódios para atrair publicidade e reforçar ainda mais a imagem de heróis, servindo de propagandistas para manter o fanatismo que transforma o futebol em algo muito mais importante que a qualidade de vida, sendo o esporte bretão a principal explicação porque ainda os brasileiros não atingiram a maturidade.

Os jogadores que alegaram ser vítimas de racismo vão muito bem, obrigado. Os casos lhes aumentaram a popularidade, pois posar de vítimas é muito legal e estimula a comoção coletiva. Mas bem longe dos estádios de futebol, vítimas reais de formas mais cruéis, não somente de racismo, mas de todas as formas de ofensas físicas ou morais, continuam a sofrer danos irreversíveis, sem a voz dos jogadores a gritar alto por eles. 

Essas vítimas silenciosas cujos gritos são abafados pelo anonimato, é que mereciam ser ouvidos, pois com morte ou não, as vidas deles sempre acabam, por não terem eles o direito pleno ao respeito e às realizações sonhadas. 

A luz dos holofotes que "clareia" as peles dos jogadores, dando a estes a oportunidade de serem vistos e ouvidos, ainda não atingiu os pobres cidadãos. O racismo, essa mazela cruel e burra praticada há séculos, ainda não tem data para acabar (talvez não acabe tão cedo). E não serão episódios onde algum jogador de futebol é ofendido com o uso da palavra "macaco", que fará com que a dignidade chegue aos não brancos que não ganham fortunas para jogar futebol.

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