Não se sabe se é por ignorância, ingenuidade ou simplesmente para incrementar, como acontece quando o pôquer é jogado a dinheiro, mas está ainda bastante arraigada a ideia de que futebol em copa é dever cívico, orgulho nacional. Somente nesta época os brasileiros (pensam que) demonstram seu amor pelo país e por suas coisas, achando talvez que a vitória no futebol irá levar a vitória em setores mais sérios. Puro delírio infantil.
Apesar do culto ao futebol estar recebendo cada vez mais críticas, já que se trata de um lazer supérfluo tratado como dever, grande parte dos brasileiros ainda acredita no mito da pátria de chuteiras, de que o futebol é o nosso único motivo de orgulho e para ele que todos os focos devem ser desviados.
Para acabar com esta absurda crença que faz com que uma atividade puramente lúdica (ludopédio!!!!) seja vista como assunto de segurança nacional, seria necessário que alguém com o poder de persuasão coletiva, um totem midiático, esclarecesse a população sobre essa secular mania de confundir futebol com dever cívico, seleção brasileira com, o próprio país.
Mas tradicionalmente só damos ouvidos a pessoas com algum poder de persuasão, mesmo que elas sejam mais ignorantes que uma porta. Se um Zé Ninguém como eu, usa o raciocínio e o bom senso e consegue provar que futebol nada tem a ver com patriotismo, ninguém dá ouvidos. Mas se uma celebridade como Faustão ou Luciano Huck, ou uma empresa como os Supermercados Extra, apelam para o sentimentalismo barato e para a fé cega e diz que futebol "é sim, patriotismo", aí todo mundo dá ouvidos, concorda e acaba obedecendo.
Claro que há alguns avanços. A publicidade já não fala mais em "milhões" de torcedores e sim em "milhares", admitindo a existência dos não-torcedores (que já usam o Facebook para se manifestarem contra este dogma que monopoliza o futebol nos corações tupiniquins).
Mas mesmo assim, essa "minoria" (entre aspas, pois há indícios de que há uma maioria silenciosa, e não socialmente influente, de não-torcedores e que uma numerosa minoria barulhenta é que gosta) que detesta o famoso esporte ainda é solenemente ignorada por publicitários, mídia e autoridades, que se dedicam exclusivamente a paparicar os torcedores de futebol.
Vamos ver o que acontece em nossa sociedade. sabe-se que sociedades infantilizadas, carentes e emburrecidas costuma colocar o lazer como prioridade, como crianças que preferem brincar do que estudar. E transformar essa brincadeira em assunto sério é uma forma de colocá-lo acima de qualquer coisa, com o objetivo de que essa brincadeira nunca seja cancelada, servindo de doce ilusão para quem se recusa a resolver os problemas do país, seja por preguiça, seja por medo ou simplesmente por falta de vontade.
E vamos todos brincar de patriotismo de copa. Para depois sermos engolidos pelo bicho-papão da realidade feia e cruel.
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